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7.6.21

Na tela do telemóvel

 O tempo parou!

Dei por mim a pensar nos planos que eu fiz, nos sonhos que eu criei, na dependência emocional que eu intensifiquei cada vez que olhava para ti. Dei por mim a calcular dias, meses, anos, e a calcular a intensidade de tudo o que já vivi. Dei por mim a sentir-me injustiçada por dar tudo de mim, tentar ser melhor no que me pedias e a não conseguir, tentar alcançar o teu pódio para fazer cada vez mais parte de ti, e por todos esses degraus e por todos os contratempos eu me perdi.

Um dia acordei e no meio do caos o tempo parou, fez-se um clique em mim que intensificou mais os meus medos, as minhas inseguranças, as minhas ilusões. Tudo baralhou na minha cabeça e dei por mim a pensar que tudo iria ser perfeito, era só um passo para que o futuro que idealizei comecasse a se construir, contigo, por nós, por ti e por mim.

Errei, de novo errei e voltei ao chão pensando no mais correto e em por sentimentos de lado, a emergi-los nas gavetas profundas da mente onde coloco tudo o que não quero reviver, e fui buscar a pouca esperança que me dizia, resolve este problema que tudo melhorará a seguir!

Errei de novo.

Nada melhorou, eu tornei-me mais fria, mais distante, desliguei muita coisa em mim, mas, havia uma constante ainda em mim. Tu. Os meus planos contigo, o pouco que sorrias fazia-me sonhar de novo, iludir-me de novo, até que mais uma vez o exterior arrastou-me pelo chão. 

"volta de uma vez, deixa de ser burra" diz-me o chão cada vez que tento voar. 

Senti-me mais injustiçada, como é possível eu dar tudo de mim, eu quebrar em tudo o que te incomoda, eu mudar rotinas e hábitos, ignorar pessoas, deixar amizades de lado, dedicar-me só a ti e ao meu profissional, pedir desculpa cada vez que te sentes injustiçado, mas comigo nada funciona assim?!

Comigo eu tenho de engolir, eu tenho de me calar, eu tenho de aceitar, não tens de mudar, não tens de adaptar nada, não tens de evitar nada, não tens de perceber o que me incomoda e deixares de o fazer, porque tu não tens de nada, não tens sequer de pedir desculpa, eu tenho de aceitar se quero ficar contigo, senão, adeus.

Onde isso é justo?!

Cada palavra dessas me incomoda, me humilha, me arrasta pelo chão, me desvaloriza, me magoa, me quebra, me mata e como é possível nem quereres saber?!

Porque tu és o ser que tudo pode e eu valho nada para ser a que não pode nada.

Eu mereço isso?!

Eu mereço aceitar abraços e tudo o que achas certo, mesmo que me magoe e tendo de calar a boca?

Eu mereço falar com alguém e ser julgada, humilhada, mal tratada só porque não es tu?!

Eu mereço isto?

Porque contigo tudo é valido e comigo nada, eu mereço isso? 

Não ligas ao que sinto nem queres saber disso para nada. Não importa se me magoa, não importa se me afasta, só não importa.

Dói e dói tanto que depois de tudo o que aconteceu eu vejo-me cada vez menos importante, cada vez mais sem voz, sem poder sentir, sem me poder incomodar, sem ter opinião, sem ser ouvida, sem ser valorizada, respeitada, e tudo porque nem me dás um pedido de desculpa porque tu é que tens razão?!

Dói saber que preferes matar tudo do que simplesmente admitir que erras e pedir desculpa. 

Dói ver todo o amor que tenho por ti, olhar para o fundo do meu telemóvel, que és tu, e começar a chorar por falta de compreensão, falta de dedicação, de valorização. 

Falta de reciprocidade. 

Sei tudo o que fazes por mim e dou valor a tudo isso, mas tudo o que faz parte da parte emocional de uma relação, aí é a tua falha.

E dói. Dói ainda mais saber que falhas tanto emocionalmente mas não queres essas falhas da minha parte. Dói ver que sabes que erras, sabes onde falhas e respondes-me " não quero saber, só tens de aceitar" 

Dói ver que tudo o que eu faço para ti é nada e tudo o que eu sinto para ti é irrelevante.

Dói ver que o amor que tenho por ti não é o suficiente, a admiração que tenho por ti não é nada para ti, posso não ser a mais romântica a mais querida mas eu olho para ti como se fosses o meu mundo, o meu sonho, tudo o que procurei na minha vida, e tudo isso se ir despedaçando em cima de mim, para quem sente, mata. Dói tanto que eu já nem sei por em palavras o quanto me dói, o quanto quero que nos demos certo e quanto eu percebo que nada valho para ti e só dará certo se eu aceitar tudo o que achas que devo de aceitar sem ter a mesma atitude da tua parte. Sem reciprocidade. 

Dói ver que sabes exatamente onde me doi e é exactamente aí onde me vais magoar.

Dói, eu amo-te mas dói, mata e mói. 

E é aí que o meu tempo parou, no fundo da tela do meu telemóvel onde o amor que me consome é o mesmo que me mata. 

29.1.21

Desintoxicação

Emergi numa sombria plenitude onde todos os meus pensamentos não estavam em conformidade com os meus princípios, e dei por mim a duvidar e repensar em todas as fases da minha vida. Em tudo o que foram decisões e sobre as quais afetaram o meu percurso ou a minha personalidade. Que solo ando eu a plantar para que qualquer coisa seja fertilizada e cresça na minha mente como batatas podres numa quinta de terreno árido? Porém não é isso que eu criei como objetivo, não foi isso que eu idealizei para mim, não me via nesses cenários, sendo positiva, esperançosa, sonhadora, imaginava um caminho diferente traçado e alcançado por mim. 

Mas não foi bem assim que aconteceu. 

Não foi de todo o que eu projetei, mas o primeiro passo para a mudança é a percepção da mesma. 

É a noção de que, para esse solo se tornar saudável temos de podar ervas, pegar no ancinho e limpar os terrenos, torná-los próprios para cultivo. Porém o uso da ferramenta correta é essencial! De que adianta pegar numa pá, abrir buracos, atirar sementes e não termos de todo preparado a terra para o cultivo? 

Rosas não nascem de terrenos minados. 

Funciona da mesma maneira na nossa mente, onde a ferramenta somos nós mesmos. Por vezes um pouco enferrujados mas mesmo assim ainda em condições de manuseio. Temos de nos desenferrujar , colocar as luvas e mãos à obra!

É assim o início da solução. 

Visualizar o problema (interior), preparar a bancada de trabalho para a limpeza do mesmo (curar as feridas, fechar capítulos, arrumar as gavetinhas da nossa cabeça) e plantar novas colheitas, novas ideias, novas atitudes e pensamentos. Plantar saúde mental é de facto se tornar saudável! Vai custar, é demoroso, mas os frutos são bem mais saboros. E aí poderei visualizar e projetar aquilo que eu julgava apropriado para mim. Nunca é tarde para mudar, melhorar, aprimorar e limar as arestas dentro de nós, só assim crescemos e nos permitimos ser quem sempre visualizamos. E devagarinho essa plenitude sombria que me preenche aos poucos é desintoxicada e expulsa da minha mente. 

17.1.21

Triste

É triste, quando as borboletas morrem e parece que toda a ilusão de um futuro é esquecida e apagada da nossa mente. Quando te mostram que o que tu esperas é apenas e meramente um filme na tua cabeça e a vida não é um filme.
Sim, a vida não é um filme.
A vida não costuma ter finais felizes, e a vida trata de mo mostrar constantemente.
Eu perco por ser e por não ser. Por dizer e por não dizer. Por existir e por não existir.
Eu perco.
A vida tem disso.
O que é maioritariamente triste é a maneira como caímos na ilusão de que temos controlo de como a vida pode ser, como as coisas podem correr, e é isso, apenas uma ilusão.
Não percebo como é fácil as pessoas serem frias, distantes, normalizem e banalizarem desgostos, quedas, falhas, e não darem importância a certos detalhes.
Porque na verdade o que importa é detalhes.
Porque na verdade ao que te agarras é a isso, detalhes.
Mas depois vem a vida e mostra-te que os detalhes são nada. Os detalhes são armadilhas.
Armadilhas para a ilusão, armadilhas para te agarrares a esperança que já deveria ter morrido, à força que já não deveria ser imposta em nada.
E tu burra, cais nas armadilhas, cais na falsa esperança de que o filme que tu construiste pode ser por aquele caminho.
Não pode.
Não esperes.
Não tenhas ilusões.
Sonha sim, mas sonha com as coisas certas, as coisas alcançáveis.
Porque a queda é menor se vires alguma luz ao fundo do túnel. 
Ou aprende a esperar cair, aprende a aceitar que vais falhar, não esperes o contrário, espera que tudo dê errado, assim qualquer degrau é uma vitória e não te desiludes com as armadilhas do caminho.
Assim a vida pode ser menos triste.